Título
Pravda, la surviveuse
Autores
Guy Peellaert e Pascal Thomas
Edição
Eric Losfeld, 1968
Dimensões
29,5 x 22,5 cm, 72 páginas
Descrição
Há uns quase 20 anos (breve pausa para absorver este número…), num alfarrabista da Rua das Flores no Porto, tive nas mãos dois exemplares dos dois álbuns que mudaram a face da BD francesa por alturas do ano em que tudo mudou, em França e alhures: 1968. Tanto o Barbarella de Jean-Claude Forest como o Pravda de Guy Peellaert estavam em perfeitas condições, ali mesmo, mas deixei-os escapar. E foi sobretudo do álbum de Peellaert que me lembrei estes anos todos, até voltar a tê-lo nas mãos, há poucos dias, desta vez graças ao fabuloso baú do sótão universal que é o eBay.
Em conteúdo e forma, estes álbuns marcaram o arranque definitivo da banda desenhada adulta para a ribalta da edição, e impuseram o formato de álbum hardback como o formato sine qua non pelo qual se mediu toda a produção de banda desenhada francesa (e franco-belga) nas 3 décadas seguintes. Barbarella, publicado pelo mesmo Eric Losfeld em 1967, teve o sucesso que se conhece, mas creio que é no álbum de Peellaert e Thomas que o ano chave de 1968 tem, esteticamente, uma perfeita cápsula. Pravda partilha, com Barbarella, a mesma matriz de fascínio por um modelo feminino tipicamente francês da era (Françoise Hardy para uma, Brigitte Bardot para outra), o mesmo erotismo light e vagamente ambíguo (as feministas podiam, com a mesma propriedade, ora condená-las pela sua condescendência sexual aos desejos masculinos, ora admirá-las pela sua férrea independência) e um gosto marcado pela ficção-científica psicadélica, que incorporava nos modelos tradicionais das séries pulp a vaga da experimentação química, sexual e social desses anos. Mas, graficamente, Pravda transcende os limites da BD e do género e afirma-se totalmente como um ícone gráfico dessa era. É mais estilizado, mais depurado visualmente, mais Pop, e fica-se com a impressão que Peellaert preferiria abdicar da narrativa quadro a quadro para criar, em cada quadrinho, um cartaz.
De facto, Pravda não é um triunfo da escrita nem da narrativa (nisso perde pontos para a obra de Forest), devendo antes ser lido como uma experiência plástica que apropriava os signos do tempo e preparava já o desencanto e o cinismo pós-Maio (foi publicada em Outubro de 1968). No prefácio (3 páginas de fundo amarelo com texto preto sans serif em caixa alta condensada e em corpo gigante – tudo aqui é feito para o impacto), Henri Chapier remete, sem surpresas, para o “inconsciente colectivo” de Jung.
Prova A
Prova B
E não é surpreendente também, ao vermos a espantosa capa e as 4 páginas introdutórias (Prova A e B), lembrarmos que Peellaert deixaria a BD para se tornar num dos grafistas mais em voga nos anos 70 e 80, trabalhando sobretudo com colagens e retoques em fotos, como o atestam o livro Rock Dreams e as capas para discos dos Rolling Stones (It’s only rock’n’roll) e David Bowie (Diamond dogs) e cartazes para filmes de Scorsese (Taxi driver) e Wenders (Hammet, etc). O seu envolvimento com o cinema começou antes mesmo de Pravda, no filme Jeu de Massacre de Alain Jessua (1967 – Prova C), provando que a BD era apenas mais um meio de expressão plástica para este artista.
Prova C
No comments… i miss old good times ..so what ??
Sou do Brasil. Conheci esses quadrinhos “eróticos” após dar uma vasculhada em um site de compras brasileiro. Acabei achando uma versão em português de Barbarella (1969), depois adquiri o original francês (1966), os dois álbuns seguintes (1974; 1977), também em francês (ainda me falta o 4º álbum!), recentemente importei o livro da outra personagem de Guy Peellaert, Jodelle (1966), a versão americana, depois comprei Scarlett Dream (1966) e agora o meu Pravda La Survireuse (1968) está chegando pelo Correio. Minha coleção está crescendo! Rs
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