“Afastado o problema de uma dependência, a forma estaria livre para se desenvolver sem nenhum funcionalismo específico.
A teoria é ‘post-facto’. Só me apareceu numa conversa com o O’Neill, há um par de anos, há muito pouco tempo. Tão pouco tempo que, nestas últimas capas que fiz, só certas legendas, certos partidos tipográficos, apontam para este caminho que acho tacteável. Campo vastíssimo, evidentemente. Conduziria decerto à colaboração na criação dum objecto (objecto com forma de ‘capa’), com escritores, tipógrafos, poetas. Agrada-me muito pensar neste aspecto de criação colectiva, que se aparentaria à poesia concreta, aos caligramas, aos divertissements tipográficos. O todo constituir-se-ia numa obra esteticamente autónoma, forma de arte (menor, se lhe quiserem chamar, isso é o que menos me interessa) como outra qualquer.
Se me expliquei mal, posso fazê-lo doutra maneira, esta: Alguém, ao ouvir-me, exclamou: ‘Disparate! Capas para livros que não há!’ Mas a definição é justamente essa. De resto, todos nós temos inventado capas para livros imaginários, com autores e tudo (o Lima de Freitas tem algumas). É a mesma objecção que: ‘Ora! Cartazes que não anunciam coisa nenhuma!’ Mas há-os às mãos cheias.”
(Victor Palla, in Falando do Ofício, p. 47, Sociedade Tipográfica, Lisboa, 1989; foto: auto-retrato de 1989)
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