Um ladrão de livros em Tóquio, 1968

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Frames das cenas iniciais do filme de 1968 Shinjuku dorobō nikki (Diário de um ladrão de Shinjuku) realizado por Nagisa Oshima (1932-2013). Torio (interpretado pelo artista plástico e designer gráfico Tadanori Yokoo) é apanhado a roubar livros numa livraria (entre os quais o Diário de um ladrão de Jean Genet), algures na zona de Shinjuku, em Tóquio. A empregada que o denuncia ao patrão, perante a relutância deste em denunciar o roubo às autoridades, decide desafiar secretamente o jovem e inepto larápio: concede-lhe mais três tentativas de roubo até chamar a polícia. Sombras do Pickpocket de Bresson (Nouvelle Vague obligeait), numa versão mais crua e desencantada.

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O poster do filme (ou melhor: os posters, pois parece ter havido mais do que um) foi da responsabilidade do próprio Yokoo, que o acrescentou às dezenas de outros cartazes num estilo Pop com um gosto particular pelo bizarro e o grotesco (composições que misturavam colagens com desenho de linha clara, com áreas de cor plana e contrastes violentos, e uma iconografia que recuperava as imagens vernaculares da cultura popular japonesa) que já tinha feito para as companhias de teatro de vanguarda, e que compunham o grosso do seu portfolio, cartazes seminais na fixação do estilo visual angura (termo japonês para designar obras de arte gráfica ou performativa que estejam à margem do gosto dominante, ou seja, o que no ocidente se convencionou chamar de underground).
Yokoo era próximo dos círculos do novo teatro japonês de vanguarda de então, mais ou menos underground (mais no caso das peças de Shuji Terayama; menos no caso das peças de Yukio Mishima, ainda no máximo da celebridade por aqueles dias, e com quem Yokoo estabeleceu uma forte amizade).
É precisamente nesse ano de 1968 que a sua carreira arranca internacionalmente, ao participar na exposição de cartazes “Word and Image” no MOMA de Nova Iorque, para a qual lhe é encomendado o cartaz oficial.

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Tadanori Yokoo voltou a entrar em apenas outros dois filmes, incluindo, em 1985, um pequeno papel no filme de Paul Schrader Mishima: A Life in Four Chapters, para cuja edição em DVD pela Criterion, há uns anos, desenhou a capa. Neste filme, no segmento “A Casa de Kyoko”, interpretou uma misteriosa personagem que, numa breve conversa, inculca na personagem principal a inevitabilidade do suicídio (cena catártica, sem dúvida, da dor que a morte do seu amigo e mentor Mishima lhe causara em 1970).

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Oshima, esse, que em 1968 tinha já uma carreira de dez anos, não parou de fazer filmes até 1999. Morreu ontem com 82 anos.

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