Entre este primeiro número de The Stripteaser e o quarto de Olympia distam dez anos, toda a década que se segue à fundação da Olympia Press em 1953. Marcam a evolução de Maurice Girodias, a de um astuto pequeno editor de literatura considerada pornográfica pelos juízes do gosto e da lei até ao muito bem sucedido (mas em breve falido) empresário e editor “sério” de Lolita, de Candy e dos livros de Beckett, Burroughs e companhia. Se Olympia cumpre a ortodoxia editorial e visual de uma revista que representa o catálogo do seu editor nesses anos (como a Evergreen Review fazia para a Grove Press do amigo americano de Girodias, Barney Rosset), é curioso ver como a amostra de excertos das obras disponíveis pela Olympia no seu arranque (Sade, Miller, Cleland) se assemelha a um objecto “detourné” no espírito situacionista de uns anos depois: uma singela revista “para homens” (capas coloridas sem nudez, fotos a preto e branco no miolo, onde a nudez recusa apenas a exibição da genitália), cujo texto que acompanha esta galeria de “strip-teaseuses” se dissocia ostensivamente da obrigação de as comentar. Cumpria-se, assim, essa dualidade que marcou o catálogo de Girodias, procurando (e, durante algum tempo, conseguindo) agradar a gregos e a troianos (e, talvez, comprovando a natureza “contraditória” do strip-tease parisiense que Roland Barthes apontava num dos seus textos de Mitologias, publicado em 1957).
De Maurice Girodias, pode agora ler-se O PROCESSO KISSINGER em novidade Montag.