Entre este primeiro número de The Stripteaser e o quarto de Olympia distam dez anos, toda a década que se segue à fundação da Olympia Press em 1953. Marcam a evolução de Maurice Girodias, a de um astuto pequeno editor de literatura considerada pornográfica pelos juízes do gosto e da lei até ao muito bem sucedido (mas em breve falido) empresário e editor “sério” de Lolita, de Candy e dos livros de Beckett, Burroughs e companhia. Se Olympia cumpre a ortodoxia editorial e visual de uma revista que representa o catálogo do seu editor nesses anos (como a Evergreen Review fazia para a Grove Press do amigo americano de Girodias, Barney Rosset), é curioso ver como a amostra de excertos das obras disponíveis pela Olympia no seu arranque (Sade, Miller, Cleland) se assemelha a um objecto “detourné” no espírito situacionista de uns anos depois: uma singela revista “para homens” (capas coloridas sem nudez, fotos a preto e branco no miolo, onde a nudez recusa apenas a exibição da genitália), cujo texto que acompanha esta galeria de “strip-teaseuses” se dissocia ostensivamente da obrigação de as comentar. Cumpria-se, assim, essa dualidade que marcou o catálogo de Girodias, procurando (e, durante algum tempo, conseguindo) agradar a gregos e a troianos (e, talvez, comprovando a natureza “contraditória” do strip-tease parisiense que Roland Barthes apontava num dos seus textos de Mitologias, publicado em 1957).
De Maurice Girodias, pode agora ler-se O PROCESSO KISSINGER em novidade Montag.
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Dez anos de Olympia
Exposição “Editor de Vanguardas” no Porto
Algumas imagens da exposição Editor de Vanguardas: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite na Biblioteca Municipal do Porto (ao jardim de São Lázaro), de que sou comissário e que encerrará a 31 de Janeiro de 2019. Aproveitarei para fazer aí e nesse mês a apresentação da segunda edição de Olhar de Editor de Serafim Ferreira, vinte anos depois da primeira. Durante a exposição, estão à venda na loja da biblioteca exemplares de Editor Contra e Portugal em Sade, Sade em Portugal, edições Montag.
Manta 90/40 na Galeria Valbom
Algumas imagens da exposição MANTA 90/40, que inaugurou na Galeria Valbom no passado dia 29 de Setembro e que estará aberta ao público até dia 10 de Novembro. Haverá uma visita guiada no dia 13 de Outubro. Entrada gratuita. Os meus agradecimentos ao excelente trabalho da galeria na montagem desta exposição: Teresa Neto, Luís Ginja e os proprietários, Adélio e Lourenço Soares.
Manta 90/40
Abre no dia 29 de Setembro, Sábado, na Galeria Valbom em Lisboa a exposição MANTA 90/40, dedicada à comemoração dos 90 anos de João Abel Manta e aos 40 anos da edição de Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar, a sua obra-prima. Sou o curador científico da exposição e o responsável pelo design do livro/catálogo, publicado pela galeria e pela Caleidoscópio, que inclui também dois textos meus. Está aberta até 10 de Novembro.
Novidade Montag
Conferir e comprar no site Montag (já em algumas livrarias independentes seleccionadas de Lisboa, na banca de Frenesi/Paulo da Costa Domingos na feira do Anchieta ao Chiado e em breve na FNAC).
Promoção Montag*: “o último livro contra do editor contra, 40 anos depois”
Receba o último “livro contra” do “editor contra”, 40 anos depois: oferta de um exemplar de O PEQUENO LIVRO VERMELHO DO ESTUDANTE de Soren Hansen e Jesper Jansen (Afrodite, 1977) na compra de um exemplar do EDITOR CONTRA no site Montag (com 15% de desconto).
* Limitada ao stock existente
Primeira de seis partes do documentário “The Book That Shook The World” (2007) sobre o escândalo da publicação do PEQUENO LIVRO VERMELHO DO ESTUDANTE na Austrália e noutros países, no início dos anos 70.
«Publicado originalmente na Dinamarca em 1969, o livro tornou-se numa cause célèbre e deixou um trilho de polémica por alguns dos países onde foi depois traduzido e publicado: em 1970, é proibido na Suíça e em Itália; em Inglaterra, a editora Stage 1 viu em 1971 a sua edição apreendida por motivos de posse de material obsceno para venda e foi processada e condenada (Margaret Thatcher, ministra da Educação no governo conservador de Edward Heath, foi determinante no processo), sendo apenas autorizada depois uma edição censurada; no mesmo ano, em França, François Maspero vê também a sua edição ser apreendida; em 1972, na Austrália, o furor pela sua publicação quase provoca uma crise política; mesmo na Espanha pós-franquista, em 1979, a primeira edição não clandestina causará polémica e levará o seu editor aos tribunais. Fruto da vaga experimental e liberal que varrera a Escandinávia nos anos 60, com um título obviamente inspirado no Pequeno Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung e organizado rigorosamente por temas de interesse a estudantes liceais, o livro funcionava como um guia, mas diferia dos outros guias do género na linguagem directa e na liberalidade do tratamento de assuntos como o sexo, as drogas e a relação com a autoridade (o delicado trabalho de adaptar alguns detalhes à realidade portuguesa de 1977 coube a Maria Alberta Menéres e Orquídea Martins). Volume compacto, do tamanho de um livro de bolso (como o bolso da pasta escolar desenhado na feliz capa anónima), lançado mesmo no início do ano lectivo, era uma pequena edição notável de oportunidade e pertinência, e, sobretudo, um livro que, no catálogo da Afrodite desses anos, complica a classificação do seu editor como alguém “de direita”: retrospectivamente, mais do que do Mein Kampf e dos livros anti–soviéticos ou das “novas direitas”, Ribeiro de Mello devia ser hoje recordado como o editor que, na sua fase final e “decadente”, publicou o Pequeno Livro Vermelho do Estudante em Portugal.»
(EDITOR CONTRA, pp. 217-218)