“Os novos ‘galimares'”

Texto publicado no Público de 30 de Outubro de 2018 (versão online aqui).

galimares-publico301018

Advertisement

Leave a comment

Filed under Da casa, Imprensa

“Um objecto e seus discursos”: o(s) Sade(s) da Afrodite no Porto

Sábado, dia 27, imediatamente antes da inauguração da exposição “Editor de Vanguardas” dedicada a Fernando Ribeiro de Mello e à Afrodite na Biblioteca Municipal do Porto, estarei à conversa com Nuno Amorim sobre estas duas edições de Sade publicadas pela Afrodite, sobre o que correu mal na primeira (quase tudo, como contei em PORTUGAL EM SADE, SADE EM PORTUGAL) e o que fez da segunda um livro tão memorável (e o que faltou para ser ainda mais). Moderação de Guilherme Blanc.
Nuno Amorim é, com Eduardo Batarda, o sobrevivente da montanha-russa que foi a carreira da Afrodite na década de 1970, colaborando com o editor desde a célebre sessão da banheira em 1971 até ao fim da linha, o que incluiu algumas excelentes ilustrações pelo meio, como no Manual dos Inquisidores, no Super Macho de Jarry e em O Sexo na Moderna Ficção Científica. Será, se não estou em erro, a primeira vez que se falará em público sobre o “Dali de Lisboa” na sua cidade natal, o Porto. Sujeito a inscrição prévia
.

44037212_1836494423086722_7510715447747018752_n

1 Comment

Filed under Eventos

Manta 90/40 na Galeria Valbom

Algumas imagens da exposição MANTA 90/40, que inaugurou na Galeria Valbom no passado dia 29 de Setembro e que estará aberta ao público até dia 10 de Novembro. Haverá uma visita guiada no dia 13 de Outubro. Entrada gratuita. Os meus agradecimentos ao excelente trabalho da galeria na montagem desta exposição: Teresa Neto, Luís Ginja e os proprietários, Adélio e Lourenço Soares.

42858311_1821543121248519_7855192539513487360_o

42699654_1821543134581851_5609355231356780544_o

IMG_2414

IMG_2416

IMG_2406

IMG_2405

IMG_2413

IMG_2418

IMG_2412

IMG_2411

IMG_2417

IMG_2410

IMG_2408

IMG_2425

IMG_2421

IMG_2424

IMG_2423

IMG_2422

IMG_2429

IMG_2427

IMG_2430

IMG_2434

IMG_2433

IMG_2432

IMG_2435

IMG_2426

Leave a comment

Filed under Da casa, Eventos

Manta 90/40

Abre no dia 29 de Setembro, Sábado, na Galeria Valbom em Lisboa a exposição MANTA 90/40, dedicada à comemoração dos 90 anos de João Abel Manta e aos 40 anos da edição de Caricaturas Portuguesas dos Anos de Salazar, a sua obra-prima. Sou o curador científico da exposição e o responsável pelo design do livro/catálogo, publicado pela galeria e pela Caleidoscópio, que inclui também dois textos meus. Está aberta até 10 de Novembro.

MANTA-90-40-promo-1

1 Comment

Filed under Da casa, Eventos

“João Abel Manta: um problema difícil”

Artigo publicado no Público de 2 de Maio (versão online aqui).

Publico-020518

Leave a comment

Filed under Imprensa

Sérgio Guimarães: foi curta a festa

Dez anos depois do 25 de Abril, num texto publicado no catálogo de um ciclo da Cinemateca ao tema dedicado, Jorge Molder referia-se ao paradoxo de a imagem mais popular e difundida nos dias da revolução, a imagem que acabou por identificar internacionalmente essa mesma revolução, ter sido uma imagem feita em estúdio, com os “tiques” habituais de estúdio, e não uma imagem feita na rua, “num momento em que tudo se passava na rua”. Em 1984, Sérgio Guimarães, o autor desse poster de que se fizeram inúmeras adaptações a outros formatos (tais como os dois postais que encimam este texto), estava longe das rodas onde se discutia e se fixava a sua aportação iconográfica à revolução que cumpria então a primeira década: editor falido, fotógrafo esquecido de quem fazia as listas de “referência”, tendo perdido até o estúdio que fora de ponta na fotografia publicitária na década anterior, sobrevivia fazendo trabalho como freelancer. Morreria em 1986, aos 53 anos, sem que muita gente conseguisse associar o seu nome ao poster do “menino com o cravo na G3”, e menos gente ainda que o ligasse a um projecto editorial de poucos meios para tão ilimitada (ou insensata) ambição mas de algum inegável arrojo.

Se há figura que pode personificar a volatilidade desses anos de processo revolucionário, a rapidez com que se consumiram carreiras entre a chegada das chaimites ao Carmo e a despedida dos últimos resquícios da utopia no fim da década (sendo a subida da AD ao poder em 1980 o claro sinal dessa despedida), é a de Sérgio Guimarães. Sobre o seu trabalho polifacetado não existe qualquer estudo, não foi publicada qualquer monografia, e, para uma vida riquíssima de aventuras e convívios e vivida no fio da navalha como a sua, perdeu-se sobretudo, e de vez, a possibilidade da escrita de uma biografia. Há apenas pontas soltas, deixadas por quem o conheceu, aqui e ali. Há muito caído de um cânone de referência (editorial, artística, etc) onde, se calhar, nunca esteve verdadeiramente, é um daqueles nomes que aparentam ser culturalmente “irrecuperáveis” e que, por isso mesmo, creio que deveriam ter sido já objecto de uma tentativa de recuperação (se bem que, neste caso, aos dotes de um investigador inspirado seria necessário juntar o talento de um milagroso ressuscitador de reputações).

Mais do que a fotografia publicitária, que ele praticava já antes de 1974 (de que aqui mostrei uma prova) e que alimentou esse poster icónico, o nome de Sérgio Guimarães, para alguém da minha geração (crianças muito novas por altura da Revolução), era o que aparecia ao fundo das capas de algumas bizarras edições de banda desenhada desencantadas em feiras do livro ou fundos de livrarias, edições de gente de topo nos anos 60 e 70 (Crepax, Pichard) que, por incrível que nos parecesse, tinha sido publicada por cá por um tipo de quem, nas décadas de 80 e 90, nada se sabia. Às suas edições políticas (sob a marca Mil Dias), também ubíquas por essas feiras de velharias, cheguei mais tarde (e sobre elas escrevi já aqui), mas as Edições Sérgio Guimarães, fruto da súbita liberdade de tudo publicar que a Revolução trouxe e que se extinguiram por 1977, e diga-se o que se disser acerca da húbris que o seu programa editorial revelava nas badanas (uma vontade expressa de publicar cá todo o catálogo da melhor BD adulta que Losfeld publicara em França), conseguiram ainda uma curiosa publicação “articulada”: a da História de O de Pauline Réage (publicando também o livro-entrevista desta com Régine Deforges, O Disse-me, ambos traduzidos por Orlando Neves) com a da adaptação a BD que Guido Crepax fez do romance, ambas em 1976, uma articulação que passou pela comunhão do design tipográfico da capa entre a edição literária e a da BD, e em que naquela a sobrecapa revelava o estilo inconfundível do fotógrafo do poster revolucionário.

HistoriadeO2

HistoriadeO4

HistoriadeO3

Dobrada a nova década, tudo isso se esfumara. O homem que, em 1982, escreve a missiva inédita (que transcrevo em baixo na sua quase totalidade, e com a ausência de maiúsculas do original que se encontra na Torre do Tombo) ao então Ministro da Cultura do governo AD, Lucas Pires, está, para além da sua carreira errática, a descrever a de muita gente do meio (publicidade, fotografia publicitária, edição, etc) apanhada pelo tsunami económico da década posterior à Revolução. Relato febril e condensado de uma vida profissional em iminente colapso, tem a cadência também da história de um náufrago, uma de muitas histórias “trágico-marítimas” no revolto oceano de falências e carreiras arruinadas desses anos. Para Sérgio Guimarães, a festa fora curta e acabara já bem antes desta carta.

sérgio guimarães
porto 1933
liceu d. manuel II
escola de belas artes
teatro experimental do porto
participação como actor em “morte de um caixeiro viajante”
subida a paris para
trabalhar em arquitetura
e maquettes de arquitetura
incidentalmente criador de toda a técnica hoje utilizada em maquettes
regresso a portugal

para trabalhar 5 anos com vasco morgado
como secretário da empresa
tradutor de peças

e outros trabalhos criativos

neste interim li tudo que havia para ler
da cultura francesa

desde o sartre, proust, ponson du terrail, zola, etc
e mais de 5000 peças de teatro
a seguir cultura em língua inglesa
passando pelo faulkner, green, maugham, joyce
e policiais e espionagem evidentemente
de novo subida a paris
para trabalhar em fotografia e artes gráficas

regresso a portugal em 1965
para ser fotógrafo

25 de abril criação do poster 25 de abril
conhecido em todo o mundo e portugal
entrevistado por diversos jornais e revistas estrangeiras
mas em portugal nunca veio (o poster) num jornal português

acaba o trabalho de publicidade
e tornei-me editor

com duas linhas de editoras
uma de sexo

que editou “os prazeres do sexo” (entre outros)
distribuídos pela quadrante
que faliu

e me deve 6000 contos que não paga
outra editora política
(que editou os grafitti)
e que a cdl matou à nascença
e que causou mais de 10.000 contos de prejuízo

retorno à publicidade
com estúdio na fontes pereira de melo
onde facturava em 1978: 400 contos/mês

alargamento da actividade em novo estúdio
e facturava-se 700 contos/mês

venda deste novo estúdio
para pagar a credores das editoras
ao mesmo tempo que descubro
que sou criativo
e aí
começa a faltar o trabalho
na medida em que a n/qualidade aumenta
(um estúdio como o nosso custava há 2 anos de aluguer diário,
em paris, sem fotógrafo, 200 contos, de acordo com revista zoom)

entretanto embora reconhecido como de longe
o único fotógrafo português com qualidade internacional
estou ignorado pois sou na realidade um outsider
que não pertence às panelinhas da informação lisboeta
visto que sou do porto

e embora colega de carteira no liceu d. manuel II
do falecido chico sá carneiro

nunca lhe pedi nada
pois as n/opções políticas eram diferentes
peço a este governo
semi formalmente

pois continuo a acreditar
que no se pode desprezar a cultura
sobretudo a visual
e dado que a banca não encara seriamente esta actividade
ja aceitei sinal pelo trespasse das instalações
que valendo mínimo 6000 contos
me ofereceram 1600!!!

o equipamento que vale mais de 20.000 contos
será entregue à banca
pois faz parte dum penhor mercantil
que tornou possível as editoras

e que embora eu já tenha pago à banca
mais de 10.000 contos dos prejuízos das editoras

não me emprestam mais um tostão

este estúdio tem uma capacidade de facturação mensal
de mais de 1.200 contos

e existe esse mercado
mas este estúdio foi criado em 1969
com a miserável quantia de 7.000$00 (verdade)
mas agora não pode subsistir sem fundo de maneio
e tem estado a funcionar com auxilio de amigos
que me emprestaram a esta data cerca de 3000 contos

temos fotografias em arquivo
que permitem varias exposições de fotografia diferentes
com uma qualidade nunca vista em portugal

desde natureza mortas, paisagens, nus, abstrações, trabalho, etc
(cerca de 4000 fotos do alentejo)

lamento não poder fazer este memo mais curto
mas trata-se de 15 anos de trabalho sem férias e fins de semana
para poder pagar os equipamentos e a banca

insisto em que as grandes empresas e sobretudo as estatizadas
nunca me compram nada

pois só estão interessadas em pagar pouco
desprezando a qualidade da imagem

1 Comment

Filed under Cartazes, Livros

90 anos de João Abel Manta

1

Leave a comment

29.01.2018 · 2:24 pm