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“Os novos ‘galimares'”

Texto publicado no Público de 30 de Outubro de 2018 (versão online aqui).

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Tensões contraditórias

À imagem do homenageado, Luiz Pacheco, este volume 2-em-1, que serve de catálogo à exposição que esteve montada na Biblioteca Nacional em 2009, está minado de curiosas tensões contraditórias, que não o tornam menos apetecível. A mais óbvia será o facto de um livro sobre o mais perfeito exemplo do “autor marginal” ou “maldito” ser publicado pela Leya (através da chancela D.Quixote), o mais perfeito exemplo de… bem, de tudo o que se oponha ao que é “marginal” e “maldito”. Essa tensão é explícita nos textos de Vítor Silva Tavares (primeiro editor de Pacheco na Ulisseia, e actual porta estandarte da &etc) e, sobretudo, Manuel de Freitas, que introduzem a parte dedicada à editora de Pacheco, a Contraponto, os quais apontam o editor e escritor como o máximo representante de uma certa corrente intelectual e ética diametralmente oposta à infiltração do marketing na edição, chegando mesmo, e de forma muito contundente, a dar “nomes aos bois” nas suas invectivas. Pacheco, mestre no uso e abuso dessas tensões internas, teria aprovado com uma vénia.

Com um design devidamente “retro” de Jorge Silva, o livro parece-me apenas falhar em duas coisas, uma mais compreensível do que a outra. Com uma bibliografia longe de extensa, seria de esperar poder ter, ou na parte dos livros do autor, ou na parte dos livros da Contraponto, ou idealmente em ambas, todas as capas reproduzidas, mesmo que em escalas diferentes. Razões económicas terão certamente imperado, impedindo a escalada no preço final de um livro já muito caro (outra das “contradições” com a praxis de Pacheco no que tocava a preços de livros, e a esta ele não teria achado piada nenhuma). Menos bem me pareceu a oportunidade perdida de focar um pouco mais o lado técnico do editor Luiz Pacheco. No fim, ficamos sem resposta a algumas perguntas, tais como “que editoras tinha ele como modelo ao criar a Contraponto?” ou “qual a sua relação com os criadores dos grafismos, ilustrações e tipógrafos?”. Vítor Silva Tavares tenta um esboço de contextualização com outros pequenos projectos portugueses dos anos de 1950, refere Losfeld como um termo de comparação possível (se bem que Ribeiro de Mello da Afrodite me pareça mais próximo ao editor da Le Terrain Vague, a não ser naquilo de estar “endividado como uma mula”, situação pachequiana por excelência), mas sente-se a falta de depoimentos ou textos de gente que com Pacheco privou no que tocou estritamente à produção dos livros da Contraponto (por exemplo, Paulo Guilherme d’Eça Leal, que desenhou o elegante logo da editora). As condições de produção e tudo o que tenha a ver com o design editorial dos livros continuam arredios da história dos mesmos que por cá se faz.

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