Um dos exemplos do arrojo técnico e gráfico de Robert Massin e outros graphistes ao serviço dos vários clubes do livro franceses nos anos de 1950. No caso, trata-se da edição de 1955 do Club du Meilleur Livre de Le Miroir de la Magie de Kurt Seligmann (título original: The History of Magic, Nova Iorque, Pantheon, 1948). Para uma edição limitada de 150 exemplares, Massin propõe uma caixa preta para guardar o livro, em cuja capa, revestida a couro vermelho, faz incrustar um genuíno “espelho mágico” oval de superfície convexa, emoldurado a ébano com um rebordo dourado. Para rematar, o toque de magia obrigatório: finamente gravado na face do espelho, um rosto do Diabo (imagem que o autor retirara dos seus arquivos e sugerira a Massin) era visível em “negativo” quando se aspirava sobre o espelho, desaparecendo da vista assim que a humidade se evaporava.
Apesar da abundante iconografia do livro de Seligmann (um excelente pintor e gravador surrealista americano de origem suíça), Massin dirigiu-se à Biblioteca Nacional de Paris em busca de outras fontes de imagens. Dessa busca, reteve dois títulos: o Dictionaire Infernal de Collin de Plancy e Le Musée des Sorciers de Grillot de Givry. Quando pediu conselho sobre este último a Blaise Cendrars, autor suíço interessado no oculto, a resposta dele foi misteriosa e inquietante: “mon petit, ne touchez pas à ce livre, c’est trop dangereux…” Perante o riso de Massin, Cendrars conta-lhe a história de um outro pesquisador do oculto que, saindo da Biblioteca com o exemplar do Musée des Sorciers nas mãos, caiu fulminado, morrendo ali mesmo. Com maldição ou não, o certo é que este Mirroir (tanto na edição limitada como na normal) vendeu muito bem, e Massin tem hoje uns bem conservados oitenta e sete anos, pelo que Cendrars pode ter exagerado ligeiramente quanto à seriedade e eficácia da mesma.