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Ribeiro de Mello: ao fim de 23 anos, uma homenagem pública em Lisboa

Alguns frames e registo (filmado pelo Luís Rodrigues, a quem agradeço) da sessão da passada Quinta-feira, 21 de Maio, na Sociedade Guilherme Cossoul em Lisboa, em que, comigo e com o editor Vitor Silva Tavares na mesa, se lembrou e homenageou o editor Fernando Ribeiro de Mello (1941-1992) e a sua Afrodite, de cujo arranque se cumprem 50 anos por esta altura. A hora e meia da gravação foi ultrapassada em vinte minutos pela conversa, que correu muito bem e com o espaço do bar à pinha (cheguei a ver gente em pé junto ao balcão), mas o essencial está aqui preservado. Mais do que uma oportunidade para revelar detalhes de Editor Contra, o livro que preparo sobre a Afrodite, o que me parece mais mais digno de nota é que se tratou, se não estou em erro (e creio bem não estar, até pelo que me contou o próprio Vitor Silva Tavares), da primeira sessão pública de homenagem e evocação a uma das figuras mais emblemáticas de uma certa Lisboa ligada aos livros do último meio século, isto mais 23 anos após a sua morte, o que, bem vistas as coisas, até não surpreende tanto assim numa cidade que entrega bibliotecas municipais à gestão de juntas de freguesia e mantém encerrada mais de dois anos (e sem reabertura conhecida) uma importantíssima hemeroteca (cujo regime maravilhosamente liberal de consulta me permitiu aceder fácil e rapidamente a muitos e importantes registos de imprensa, coisa que, hoje, seria de todo impossível). Agradecimentos aos livreiros Ricardo Ribeiro, Débora Figueiredo e Fábio Daniel, e à direcção da Guilherme Cossoul.

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Mais do que um editor na banheira: nos 50 anos da Afrodite

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No dia 21, a dar ao dente pela Afrodite

No dia 21 de Maio, às 21:30 horas, na livraria “Sr.Teste/Ennui” da Guilherme Cossoul (a Santos), vai-se lembrar a Afrodite e Fernando Ribeiro de Mello, nos 50 anos do início das publicações daquela chancela com o Kamasutra e, em Dezembro de 1965, a Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica. A sessão terá o título genérico de “Mais do que um editor na banheira: celebrando os 50 anos da Afrodite”. O Vitor Silva Tavares vai estar comigo a dar ao dente pela Afrodite, e eu mostrarei detalhes do meu livro Editor Contra: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite, que, se tudo correr bem, conto ter cá fora depois do Verão.

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Sete capas da Afrodite

Usando o pretexto de um destes anódinos (e algo escusados) “Dias Mundiais” (o do Livro, neste caso), e a propósito da exposição “Cólofon” de 500 capas de livros portugueses escolhidas por José Bártolo e Jorge Silva, e que abre no dia 8 de Maio no Museu Quinta de Santiago em Matosinhos, eis uma escolha de algumas capas do catálogo da Afrodite que tomei a liberdade de sugerir ao Jorge Silva há alguns meses, quando soube do projecto. Na altura, ele tinha já “pré-seleccionado”, digamos assim, as capas das edições de Aventuras de Alice no País das Maravilhas (1971), Apocalipse do Apóstolo João (1972) e As Crianças Falam (1973). As capas que seguem abaixo estão ordenadas cronologicamente. Note-se que não sei sequer se elas foram escolhidas pelos curadores ou não: tratou-se apenas de simples sugestões.

Antologia-do-Conto-Fantastico-1968

Começo pela capa de Rocha de Sousa para a Antologia do Conto Fantástico Português (1967). O ano de 1967 foi aziago para Fernando Ribeiro de Mello: o processo da edição da Filosofia na Alcova de Sade chegara ao fim com uma dura condenação, e os custos do mesmo acrescidos à necessidade de não dar muito nas vistas fizeram com que ele apenas lançasse, lá bem para o fim do ano, este livro, ainda por cima mal recebido pela crítica. Se a antologia enferma de falhas na escolha dos contos e sua justificação ou não, o certo é que, para além do seu ineditismo (nunca antes se publicara uma antologia de contos portugueses dentro do género fantástico), a edição contou com uma das melhores capas de todo o catálogo da Afrodite, na composição, na factura do desenho, no arranjo tipográfico (com o uso elegante da Clarendon em caixa baixa), na sábia adição do vermelho como segunda cor, deixando-nos a lamentar a ausência de um conjunto de ilustrações a acompanhar a capa e de outras colaborações suas com a editora.

Conversas-com-Versos_capa

Depois das atribulações com a polícia e a justiça (mas quando ainda tinha um outro processo a decorrer, o da Antologia da Poesia Erótica e Satírica, que só terminaria em 1970), Ribeiro de Mello reinventou-se como editor de livros infantis, para o qual foi essencial a colaboração com Maria Alberta Menéres, uma poetisa que começava então a dar os primeiros passos na literatura para crianças. O arranque da Cabra-Cega, a colecção infantil da Afrodite, dá-se com este Conversas com Versos (1968), que exibia esta soberba capa de Manuel Baptista e, no interior, algumas ilustrações a pincel, engenhosas de simplicidade, do mesmo estilo. Tal como Rocha de Sousa, Baptista expusera na Galeria Quadrante (por então, uma das novas galerias em ascensão em Lisboa); uma vez que a livraria ligada à galeria distribuía os livros da Afrodite, é bem possível que o editor tivesse aí o ponto de encontro para “arrebanhar” estes jovens artistas para o seu catálogo. Na Cabra-Cega publicarão as suas primeiras ilustrações em livros artistas como Fernando Calhau, Eduardo Batarda ou Julião Sarmento.

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A capa de Sena da Silva para a Antologia do Humor Português (1969) é não só uma das mais icónicas de todo o catálogo da Afrodite, como está associada (tendo certamente contribuído para tal) a uma das edições mais famosas da viragem da década de 60 para a de 70 e uma das mais bem sucedidas financeiramente de Fernando Ribeiro de Mello. Estendendo a imagem da “dentadura” a dezenas de homens-sanduíche e a eléctricos da Carris, a campanha de promoção desta antologia foi um marco incontornável da Lisboa que vivia a “primavera marcelista” e rompeu com a então muito tímida e pacata tradição de lançamentos de livros. A edição serviu também de “montra” para quatro jovens artistas e ilustradores em início de carreira: Carlos Ferreiro, João Machado, José Rodrigues e Eduardo Batarda, em particular este, com dezenas de brilhantes pequenos desenhos a ilustrar o índice temático.

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Uma das melhores e mais prestigiadas colecções da Afrodite, lançada no auge da renovada fama após a Antologia do Humor Português, foi a dos Clássicos, dedicada à reedição de obras antigas (anteriores ao século XIX no mínimo) e algo esquecidas. O esquema gráfico da colecção foi concebido por Paulo-Guilherme e o primeiro volume foi este Arte de Furtar (1970). Tal como na Cabra-Cega, teria sido difícil começar melhor, sobretudo no que às ilustrações diz respeito. O estilo ácido e provocador dos pequenos bonecos grotescos de Eduardo Batarda, onde abundam as caveiras a casquinar, encaixa perfeitamente neste ensaio do século XVII sobre as mil e uma formas em que a corrupção e o desvio de dinheiro se insinuaram no ethos ibérico. Destacar apenas a capa num livro tão bem pensado e feito, em que o desenho de Batarda tem uma tal importância na imposição de um ambiente e uma “cenografia”  (a começar nas guardas), é, por si só, um exercício de mutilação. Que Eduardo Batarda não tenha feito depois uma carreira como ilustrador (para além de três outros livros da Afrodite – Histórias com Juízo de Mário Castrim, em 1969 na colecção Cabra-Cega, o Manual dos Inquisidores de 1972 e a Antologia de Poesia Erótica Latina de 1976 – o seu nome está apenas ligado a outra pequena grande edição, a das Fábulas Fantásticas de Ambrose Bierce, publicadas pela Estampa em 1971) é daqueles mistérios insondáveis do “mercado” do livro em Portugal.

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Um ano após a Revolução de 25 de Abril de 1974, Ribeiro de Mello anunciava para a Feira do Livro de 1975 a reedição renovada de um dos seus dois livros condenados pela justiça do Estado Novo, a Filosofia na Alcova do Marquês de Sade. Com nova tradução, o livro apresentava-se também com novas ilustrações, desta feita por um dos ilustradores mais associados à Afrodite na década de 1970 (formando, com Eduardo Batarda e Henrique Manuel, o núcleo da imagem da editora nesses anos) e um dos mais notáveis também: Martim Avillez. Este dera-se a conhecer na espantosa edição do Livro de S. Cipriano em 1971 e subira a parada no Apocalipse do Apóstolo João no ano seguinte. A Filosofia foi o seu último livro para a Afrodite antes de emigrar para Nova York no final da década, e o seu trabalho esteve ao mesmo nível dos anteriores. Particularmente curiosa, contudo, é esta capa quase “minimalista” (não fosse toda a textura da factura manual do artista, até na tipografia), que recusa a exibição do que nas páginas se mostra e opta por ostentar este simples colchão cor-de-rosa (que se vê até de perfil na lombada). Para um artista ocasionalmente dado à grandiloquência e à minúcia obsessiva na representação do grotesco e do fantástico, esta simples solução espanta e encanta, até pelo inesperado.

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Se, na segunda metade dos anos 70, José Martins Garcia substituiu, de certa forma, a figura de Natália Correia como intelectual tutelar, autor nacional de referência e colaborador regular do editor da Afrodite, Nuno Amorim foi o último colaborador regular na área visual, do simples design das capas à ilustração pontual (de que é exemplo o seu brilhante trabalho para O Super Macho de Alfred Jarry, em 1975). O seu estilo, como é claro a quem vê os desenhos da edição do Jarry, estava próximo da banda desenhada de ficção científica e fantasia que a revista francesa Métal Hurlant publicava então (tendo chegado a estar próximo de uma possível publicação nessa revista de referência), e ele chegara a publicar histórias na revista Visão, que por cá tentou emular aquela. É por isso curioso que a que considero ser a sua melhor capa para a Afrodite seja uma em que o estilo pessoal dele é preterido em benefício de uma simples intervenção gráfica no trabalho de outrem: ou seja, uma capa não ao seu estilo mas “ao estilo de”, no caso de João Abel Manta. Os curtos contos absurdos de Martins Pereira, muito próximos de um Ambrose Bierce, reflectem um desencanto azedo com a situação pós-revolucionária, algo de que a capa não nos deixa duvidar. Apropriando-se de um dos mais famosos cartazes de João Abel Manta do PREC, o “MFA,POVO/ POVO,MFA”, em que o soldado e o camponês partilhavam alfaias e armas, Nuno Amorim acrescenta ao primeiro as extensões “diabólicas” da iconografia popular (cornos, rabo, patas de bode e um tridente) e pinta-o de vermelho, e ao camponês, por seu lado, acrescenta umas asas de querubim. Poder-se-á discutir sobre a subtileza da solução (sendo que, no rescaldo de um PREC escaldante, esperar “subtileza” fosse algo da ordem do milagre), mas, graficamente, a capa tem uma força inegável. Muita dessa força, irónica e nada ingenuamente, apoia-se, claro está, na linha clara e sólida de JAM, e se há algo de que esta capa é prova, é da referência que o trabalho deste representava na altura, com cartazes e cartoons ubíquos que marcaram visualmente toda a década: mesmo uma acção de “terrorismo gráfico” como esta, contrária à ideologia do próprio JAM, não deixava de ser uma homenagem.

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A edição deste Textos Malditos de Luiz Pacheco (1977), uma antologia dos seus textos proibidos durante a última década e meia do Estado Novo, fora acordada entre o autor e o editor em 1974, um mês depois da Revolução. Nos três anos que distaram entre a sua concepção e a saída do livro, a relação entre ambos esfriou e o editor deparou-se com sérios problemas financeiros, os quais, acrescidos a uma nítida perda do prestígio cultural de que gozara por força de edições que pareciam não corresponder ao padrão de qualidade da Afrodite, ditaram o lento crepúsculo do projecto. O que teria sido, em 1974, um grande título de Pacheco, na senda das suas edições na Estampa, em 1977 era já apenas a sombra de uma “negociata” longínqua com um editor pelo qual – em virtude de uma certa viragem “à direita” deste e de edições como a da tradução portuguesa do Mein Kampf em 1976 – ele não nutria já grandes afinidades. Ainda assim, o bom olho de Ribeiro de Mello para a escolha de ilustradores leva-o a associar ao projecto um artista que se estreia no catálogo da Afrodite em 1974, e que marcará esse catálogo até à sua última colaboração, que se dá precisamente neste livro: Henrique Manuel. Partilhando com o editor (e o autor) o culto de uma libido explosiva (notória nos seus desenhos para a Nova Recolha de Provérbios ou na Poesia Portuguesa Erótica e Satírica – Séc. XVIII-XIX), Henrique Manuel deixa neste último livro para a Afrodite algumas ilustrações realmente notáveis da figura do autor “libertino” e, sobretudo, uma capa icónica que coroa uma década de tentativas de representação do “boneco” Pacheco. Perdido no meio do implacável fundo branco, obrigado a um desconfortável aprumo no eixo central da composição, o autor apresenta-se-nos com os seus habituais atributos… e decapitado, ou melhor, com a cabeça cuidadosamente amparada nos braços e nas mãos cruzadas. É um misto perfeito de caricatura e retrato psicológico, a que as finas hachuras feitas com a Rotring concedem uma delicadeza que parece contrária ao absurdo chocante da imagem (sobre a história desta edição, escrevi a monografia A Última Sessão que pode ser adquirida aqui).

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Lolita e Sade: os “affaires”

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A edição da Afrodite de A Filosofia na Alcova do Marquês de Sade teve vida curta nas livrarias. Lançada em Março de 1966, torna-se um caso de polícia quando, a 29 desse mês, o agente da Polícia Judiciária Henrique Parente informa os seus superiores que “consta estar à venda e em circulação um livro pornográfico, protótipo de desmoralização”. Desse momento até à instauração de um processo pela publicação desse título distariam apenas quatro meses: em Julho, são constituídos arguidos Fernando Ribeiro de Mello, Herberto Helder (a quem fora encomendada a tradução), Luiz Pacheco (autor do prefácio “pró-Sade”), João Rodrigues (o ilustrador, que se suicidara entretanto, no dia 10 de Maio) e Calado Trindade (o “negro”, ou seja, o verdadeiro autor da tradução, a quem Herberto Helder passara a encomenda); David Mourão-Ferreira, autor do prefácio “anti-Sade” fora poupado. Tendo em conta que no mesmo mês se iniciava um outro processo contra outra edição da Afrodite, a da Antologia da Poesia Erótica e Satírica (saída no final de 1965), pode-se ter uma noção do golpe que isto representava para uma pequeníssima editora, quase marginal, que, até esse momento e no espaço de um ano, publicara apenas seis títulos, todos eles proibidos pela Censura. O “processo Sade” de Ribeiro de Mello termina a 9 de Novembro de 1967, com a condenação de todos os arguidos (e penas pesadas para o editor e Luiz Pacheco).

Esses dois processos (o da Antologia termina apenas em Março de 1970, também com curas condenações) colocavam o editor da Afrodite no centro de um campo de batalha internacional que opunha editores e censores desde meados da década anterior, quando Jean-Jacques Pauvert fora levado a tribunal pela publicação das obras completas no Marquês de Sade na editora que tinha o seu nome. Essa batalha estendeu-se a Inglaterra (onde a Penguin lutou em tribunal pela possibilidade de publicar sem cortes Lady Chatterley’s Lover de D. H. Lawrence), aos EUA (onde a Grove Press passaria quase uma década em vários tribunais do país a defender a liberdade de publicar obras de Henry Miller e William Burroughs) e a muitos outros países onde crescentes aspirações libertárias chocavam com as censuras vigentes. As vitórias da Penguin e da Grove Press resultariam, em particular nos EUA, no que Charles Rembar (o advogado da Grove) designou de “fim da obscenidade”: um termo quase absoluto e oficial à censura da palavra impressa a partir da segunda metade da década de 1960. Para Ribeiro de Mello, a sorte foi outra: se ter ido a tribunal em 1966, em plenas comemorações dos quarenta anos do Estado Novo, defender o quase indefensável – a liberdade de publicar Sade num país governado por Salazar – lhe valeu a designação de “Pauvert português”, o resultado foram duas claras condenações e uma necessidade estratégica de se afastar dos temas sexuais no seu catálogo para sobreviver. O que, contudo, o diferenciou realmente de Pauvert (para além do muito que distinguia pessoalmente os dois homens) foi a impossibilidade de fazer o que este conseguiu ou que lhe foi permitido pouco depois da sua condenação em 1957: publicar um relato pormenorizado do julgamento, com a transcrição de todos os depoimentos das testemunhas e do advogado de defesa.

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L’Affaire Sade, de que Maurice Garçon, o advogado de Pauvert, se apresenta como autor, é, simplesmente, a exposição da estratégia de defesa num pequeno volume de 140 páginas, de leitura fácil e composto com o cuidado tipográfico que era comum aos livros de Pauvert (usando até uma segunda cor no texto). A sua publicação foi um golpe de génio: tornando um caso de apreciação delicada perfeitamente acessível ao leitor comum (os diálogos entre os juízes e as testemunhas lêem-se como se de uma peça de teatro se tratasse), alinhando um impressionante conjunto de personalidades culturais para depor em sua defesa (Georges Bataille, André Breton, Jean Cocteau e Jean Paulhan), Pauvert conseguiu provar, pelo impacto que o livro teve na imprensa e no público leitor, um dos pontos centrais da sua defesa: o da “importância cultural” das edições de Sade. Um recurso da primeira condenação, já depois da publicação deste livro, teve como efeito a revogação da pesada multa e, sobretudo, da ordem de destruição do stock existente. Se Pauvert continuou a publicar toda a obra de Sade, Ribeiro de Mello não voltaria a publicá-lo senão depois do 25 de Abril.

Quando reeditou a Filosofia na Alcova, com nova tradução (de Manuel João Gomes) e novas ilustrações (de Martim Avillez), o editor aproveitou para acrescentar, à laia de “posfácio”, a reprodução de um conjunto de documentos relativos ao processo Sade de 1966-67, dos primeiros autos policiais ao acórdão do Plenário. Não sendo propriamente um “Affaire Sade” versão Afrodite (em 1975, viria já tarde esse livro), é, ainda assim, uma fonte de informação única e de enorme valor para o estudo de um processo deste tipo, e também a prova de que a Manuel João da Palma Carlos (o advogado de Ribeiro de Mello) e ao editor não era desconhecida a edição de Pauvert, dados os paralelismos entre a estratégia de Palma Carlos e a de Garçon e o recurso a citações de muitas das testemunhas de Pauvert.

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No mesmo ano em que L’Affaire Sade era publicado, um outro editor de Paris estava em tribunal a defender uma edição sua de acusações de obscenidade. Maurice Girodias publicara em 1955, na sua Olympia Press, um romance de um russo emigrado nos EUA quase desconhecido, Vladimir Nabokov, intitulado Lolita, e, desde então, estivera com a justiça à perna. E, tal como Pauvert, também ele aproveitou a possibilidade de publicar um L’Affaire Lolita. Editado pelo próprio Girodias (que acrescentou o dramático subtítulo “Defesa do Escritor”, apesar de Nabokov, por razões que se prendiam com a falta de pagamentos de royalties, lhe ter virado as costas e nunca ter comparecido junto ao editor num tribunal de Paris), é um sortido de textos que inclui um excerto do romance (traduzido pelo irmão de Girodias, Eric Kahane), um texto de Nabokov sobre o mesmo, um texto do editor sobre o processo de perseguição censória ao livro e a reprodução de alguns documentos, recensões nos jornais, relatórios de censores, etc. Sem a economia e a contenção do volume de Pauvert, a capa de cores intensas deste L’Affaire Lolita esconde um processo caótico em que o editor acabou a batalhar também contra o próprio autor que pretendia defender (por alturas da edição da Gallimard, em 1959, ambos estavam já de relações quase cortadas).

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Teria Fernando Ribeiro de Mello tido a hipótese de poder preparar um pequeno livro nestes moldes em 1967, com um título como “O Caso Sade”, em que ele e o seu advogado Palma Carlos expusessem e publicassem os seus argumentos de defesa? Nem por sombras. Mas, a tê-la, esse livrinho teria sido feito certamente na sombra destes dois, ou, pelo menos, na do Affaire Sade do ubíquo Pauvert: não precisaria disso para que o vissem como o “Pauvert português” (como Luiz Pacheco deixou fixado numa recensão de 1969 à Antologia do Conto Abominável publicada na revista Notícia), mas acabaria com todas as dúvidas dos que não acreditavam que o fosse.

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“Fernando de Bentley”, Guy Debord e a edição portuguesa de “A Sociedade do Espectáculo”

O texto deste post é um excerto de Editor Contra: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite, a monografia “in progress” que tenho vindo a compor e que – figas – espero poder publicar este ano. Para o caso em questão – a publicação na Afrodite da primeira edição portuguesa de A Sociedade do Espectáculo de Guy Debord, em 1972 – são devidos todos os agradecimentos e mais um a Francisco Alves, amigo de Debord e autor da tradução, e Maria de Magalhães Ramalho, que teve acesso ao arquivo pessoal daquele e me disponibilizou a reprodução de algumas cartas.

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Caminhando para o sétimo ano de actividade, celebrado com a sua mais mediática sessão de promoção, que catálogo era, em 1972, o da Afrodite, cuja validade e relevância cultural Ribeiro de Mello tão veementemente defendera no meio de uma “banheira” gigantesca em Dezembro do ano anterior? Se o editor da “revolução sexual” tivera de tirar estrategicamente o sexo desse catálogo (ainda que o explorador sexual, o “caça-saias”, continue activo, como o deixa claro o Diário que Luiz Pacheco escreve desde o início da década), a chancela (que corresponde ainda a um projecto “semi-clandestino”, larvar, sem uma “sede”, em que o trabalho de preparação dos livros se faz em casa do editor ou dos colaboradores e onde nunca uma morada de contacto se indica nas fichas técnicas) conseguira prosperar com a edição de títulos infantis de novos autores e ilustradores portugueses, com antologias inéditas e, em geral, de grande prestígio crítico e com a reedição de clássicos da literatura nacional, tudo embalado em livros cuidadosamente produzidos e que, pelo seu formato e grafismo, apelavam a um imediato reconhecimento visual num contexto em que a vida de uma edição podia ser brutalmente encurtada por intervenção censória ou policial. A tradução de obras estrangeiras de ficção ou ensaio, depois do arranque de 1965-66, é mínima, e – ponto importante – o peso dos títulos abertamente “políticos” nesse catálogo é igualmente reduzido. Tal como no seu arranque, continua a beneficiar de um “mercado paralelo” em que os “livros proibidos eram verdadeiros best-sellers”, com tiragens de “3 mil, 4 mil exemplares”, livros que as livrarias “recebiam e nem expunham, ficavam debaixo do balcão e havia os clientes certos que iam lá e compravam” (1): “a proibição aguçava o apetite”. (2) Quantitativamente, entre 1968 e 1972, o número de obras em 1.ª edição registadas na BN mantém-se sempre acima dos cinco milhares por ano, ultrapassando mesmo a marca dos seis mil a partir de 1972 e até ao final da década. (3)

As atribulações, talvez poéticas, talvez pessoais, da Luísa [sic], têm-lhe feito protelar dia a dia as notícias que sobre o assunto ela queria dar. Como sou muito intranquilo, ansioso e apressado, pedi-lhe que permitisse ser eu a escrever-lhe.”

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Os acontecimentos de Maio de 1968 em Paris e, depois, a “primavera” marcelista tinham sido os catalisadores de um “forte incremento” da actividade editorial em Portugal, em particular “de livros de carácter político, com destaque para obras vinculadas ao pensamento de esquerda” (4), resultando não apenas no aparecimento de algumas novas editoras (até no Porto de Ribeiro de Mello, onde José da Cruz Santos funda em 1968 a bem sucedida Inova e, em 1971, a Afrontamento começa a despontar como uma referência) como na “politização” dos catálogos de algumas editoras já existentes.
Neste contexto de uma certa radicalização dos catálogos e de uma maior consciência política dos novos editores, como era vista a Afrodite, cujo editor, apesar de ter apenas 30 anos, tinha já quase dez anos de actividade, três dos quais ainda sob o governo de Salazar? João Carlos Alvim, o amigo de Fernando Ribeiro de Mello que, com José Antunes Ribeiro, fundará a Assírio & Alvim em Novembro de 1972 (que no ano seguinte publicará de uma autora de referência da Afrodite na década anterior, Maria Alberta Menéres, um dos seus livros mais populares, O Poeta Faz-se Aos 10 Anos) dá uma resposta:

“Para o que nós queríamos fazer, a Afrodite não era uma referência importante. A Assírio & Alvim nasceu sobretudo como um projecto de editora política de intervenção, só aos poucos foi adquirindo um cariz mais literário. As nossas referências seriam, na época, a Afrontamento – que estava igualmente a nascer por essa altura – a Centelha, a Prelo, a Seara Nova (bem como a equipa da revista Análise Social). E do lado espanhol os Cuadernos para el Diálogo e a Seix Barral. Ou em França a Maspero”. (5)

François Maspero (que, além da editora em seu nome, geria a famosa livraria “La Joie de Lire”, no Quartier Latin de Paris), pelo seu catálogo mais combativo politicamente ao longo dos anos 60, era agora o modelo para um aspirante a editor no início da nova década, o mesmo tipo modelo que Pauvert fora dez anos antes: este estava próximo da falência (um prémio Goncourt para um dos seus autores em 1972 apenas adiou a fusão da sua editora na Hachette) e os outros grandes modelos da edição “marginal” desde os anos 50, Girodias e Losfeld, saíam lentamente de cena. Não sendo propriamente o exemplo de uma editora “política” ou politizada, a Afrodite prepara-se contudo para acrescentar ao seu catálogo em 1972, na colecção de Ensaios/Documentos, o título que informara grande parte dos protestos de Maio de 1968 em Paris e os anos de ressaca depois dos mesmos. Nascida de um interesse manifestado pelo próprio editor ainda em 1970, a primeira edição portuguesa de A Sociedade do Espectáculo de Guy Debord (a quarta mundial, depois das edições italiana, norte-americana e dinamarquesa) desenrola-se, ao longo de 1971, no ritmo lento de uma correspondência entre Lisboa e Paris que envolve o editor, o tradutor Francisco Alves e o autor, complementada com a vinda a Lisboa de Gianfranco Sanguinetti, companheiro de Debord na Internacional Situacionista, que traz (num Bentley azul e branco, modelo Mark VI de 1951) (6) o manuscrito da tradução e Afonso Monteiro, que fizera a revisão da mesma. Numa carta de Alves ao editor, datada de 9 de Fevereiro de 1971, aquele confessava já alguma ansiedade por saber se, “nove meses depois da manifestação do seu interesse”, Ribeiro de Mello ainda pretendia avançar com a edição, indicando ainda que “as mais vantajosas condições” lhe tinham sido concedidas para a mesma. (7)

“Quanto à capa, somos adeptos de um certo luxo clássico, de que a própria revista [a Internationale Situationiste, publicada de 1958 a 1969] ou a recente edição de Van Gennep são excelentes exemplos. Cor única, letras a preto. O branco, o metálico-prata ou ouro, parecem excelentes.”


Seguir a correspondência entres os dois agentes principais desta “missão” é aqui de particular relevância para entender o modus operandi de Ribeiro de Mello e compreender como se via ele no papel de um pequeno editor semi-marginal. A 7 de Maio, em carta do editor a Francisco Alves, aquele indica claramente “a nossa amiga Luísa [sic] Neto Jorge” (poucos antes regressada de quase uma década em Paris) como a intermediária nos primeiros contactos, e que lhe teria perguntado se estaria interessado em publicar uma edição do título de Debord com a tradução do seu correspondente:

“Disse-lhe que sim. Que isso seria para mim do maior interesse, não só editorial mas também pessoal – aspecto da minha actividade sempre muito relevante.
As atribulações, talvez poéticas, talvez pessoais, da Luísa [sic], têm-lhe feito protelar dia a dia as notícias que sobre o assunto ela queria dar. Como sou muito intranquilo, ansioso e apressado, pedi-lhe que permitisse ser eu a escrever-lhe.”

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Capa da edição americana da Black & Red (1970)

Pela poetisa, Ribeiro de Mello teria ficado a saber que, sem qualquer inconveniente para Debord, “estaria dispensado do pagamento de direitos de autor” e que “poderia fazer a edição (tal como a americana) clandestina”. De facto, em 1970 aparecera uma edição da obra traduzida pelo anarquista Fredy Perlman e publicada “clandestinamente” (sem o pagamento de quaisquer direitos de autor) pela Black & Red de Detroit. A resposta do editor da Afrodite a ambas sugestões permite-nos ter uma rara e bem definida imagem não só do astuto negociante que ele era como do tipo de editor que ele sabia ou queria ou julgava ser:

“Quanto ao primeiro aspecto (direitos-dinheiro), óptimo, pois que sou um editor só não falido de prestígio e desprestígio, de simpatia e ódio, naqueles sectores brindados com o privilégio de usufruírem em Portugal a condição de intelectuais ou políticos – razão (dinheiros) porque sempre tenho fugido aos autores não caídos no domínio público; quanto ao segundo (clandestinidade da edição) não me serve, não só porque vivo muito do gozo público das edições que faço (e assim deixaria de ter gozo pelo desconhecimento da minha responsabilidade e participação nela), mas também porque penso que isso poderia constituir qualquer coisa de incoerente relativamente ao texto e até (em Portugal) desprestigiante”.

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Aproveitando a oferta de isenção de pagamento de direitos (uma raridade no negócio da edição), e conhecedor da mentalidade do mundo editorial português, avesso ao ferrete de “clandestinidade”, Ribeiro de Mello joga uma cartada arrojada, pedindo ao autor uma autorização escrita para uma edição “não-clandestina” mas que usufruísse dos mesmos “benefícios” financeiros de uma feita ilegalmente. Pedindo urgência da entrega da tradução (“paga a 20$00 à página dactilografada a 28 linhas”), ele limita-se aguardar, “intranquilo, ansioso e apressado”, por uma resposta. (8)
Como pedido, será o próprio Debord a dá-la, numa carta de 15 de Maio do mesmo ano:

“Je vous donne mon accord pour l’édition portugaise de mon livre La Société du Spectacle, à la seule condition que le texte publié soit exactement celui de la traduction que vous remettra mon ami Alves, sans aucune modification. J’ai moi-même collaboré à la vérification de cette traduction.
Je vous confirme que vous n’aurez pas à payer de droits de propriété littéraire. Je vous abandonne mes droits d’auteur.” (9)


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Esse gesto teria menos a ver com uma súbita generosidade de Debord do que com a consciência e o receio de que a apertada vigilância censória e policial em Portugal (acrescendo-se à história judicial do próprio editor) poderia impedir a publicação da edição (o facto de se ter desentendido, por essa altura, com a sua anterior editora francesa, a Buchet/Chastel, e de estar prestes a ser publicado pela Champ Libre de Gérard Lebovici não teria sido também despiciendo na sua decisão). Isso mesmo ele revelara numa carta 13 de Abril a Sanguinetti: “Tous les amis au Portugal sont en prison. Comme tu penses, l’éditeur portugais de mon livre n’est plus en état de l’éditer.” (10)

“A colecção tem as suas características, forçosamente constantes (como todas as colecções), mas que, por sinal, julgo absolutamente de acordo com os desejos e gosto de Guy Debord”


Pedindo ao correspondente português para, em virtude do seu mau francês, agradecer por ele ao autor a generosa “oferta”, Ribeiro de Mello responde, comprometendo-se a publicar “rigorosa e fielmente” a tradução que lhe for enviada. (11)A resposta de Alves é particularmente curiosa quantos aos detalhes financeiros (recusando, também ele, um pagamento em dinheiro, preferindo-o antes no “equivalente número de exemplares”) e gráficos da produção da edição:

“Quanto à capa, somos adeptos de um certo luxo clássico, de que a própria revista [a Internationale Situationiste, publicada de 1958 a 1969] ou a recente edição de Van Gennep são excelentes exemplos. Cor única, letras a preto. O branco, o metálico-prata ou ouro, parecem excelentes.” (12)

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Capa do segundo número do boletim da IS Internationale Situationniste (Dezembro de 1958)

Quando Ribeiro de Mello responde, já em Novembro, é para comunicar o iminente envio das provas da edição para revisão e o facto de que A Sociedade do Espectáculo será o segundo título da nova colecção de ensaios, logo após o Anti-Duhring, que ele apresentaria, dali a uns dias, na célebre “banheira” (ainda que, nesta carta, e por razões óbvias, tenha mantido o secretismo quanto ao plano desse arrojado lançamento). Quanto às sugestões gráficas para a capa, o editor mistura o realismo com a habitual pitada de orgulhoso optimismo:

“A colecção tem as suas características, forçosamente constantes (como todas as colecções), mas que, por sinal, julgo absolutamente de acordo com os desejos e gosto de Guy Debord. De resto, e particularmente no que diz respeito a ‘um certo luxo clássico’, defendo que esta minha nova colecção se afirmará por uma eficiência de bom gosto e funcionalidade pouco comum e verdadeiramente exemplar – e isto, com o maior à-vontade, refere-se não só a estes lavabos turísticos da Europa. Seja como for, resta-me a certeza de que como retribuição à simpatia do autor Guy Debord, vou fazer melhor do que seja quem for (que se conheça) faria aqui.” (13)


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A única “nódoa” na satisfação de Debord com esta edição terá sido ver a imagem do seu rosto em alto contraste multiplicada na folha de rosto – solução gráfica que Marques de Abreu aplicara já no primeiro livro da colecção ao rosto de Engels – algo que, segundo Francisco Alves, lhe provocou um acesso de ira que quase o fez enviar uma carta de reclamação ao editor.


“Fernando de Bentley” (nome secreto pelo qual o editor português era referido na correspondência de Debord, numa referência ao Bentley que Sanguinetti conduzira até Portugal) acabaria por conseguir publicar a sua edição do livro, certamente durante o primeiro trimestre de 1972 (pouco tempo antes, portanto, do anúncio público da “cisão” da Internacional Situacionista, ocorrida em Maio): numa carta a Sanguinetti de Abril desse ano, o autor admite ter visto provas corrigidas da mesma. (14) O que começara como um projecto de “tesão” (15) para o jovem estudante universitário Francisco Alves acabara no que Debord consideraria uma das melhores edições estrangeiras e na melhor tradução do seu texto, a par da dinamarquesa (16) (a única “nódoa” nessa satisfação terá sido ver a imagem do seu rosto em alto contraste multiplicada na folha de rosto – solução gráfica que Marques de Abreu aplicara já no primeiro livro da colecção ao rosto de Engels – algo que, segundo Francisco Alves, lhe provocou um acesso de ira que quase o fez enviar uma carta de reclamação ao editor). De apresentação gráfica discreta (apesar do fundo prateado da capa, eco das sugestões de Debord via Alves), sem os arrojos de composição de texto do primeiro volume da colecção mas também, é certo, sem conseguir um equilíbrio harmónico entre o esquema gráfico dessa colecção e o que o autor pretenderia, A Sociedade do Espectáculo não mereceu a proibição que caíra sobre a edição de Engels: apesar de identificar o autor como “um marxista francês” e de admitir que “em princípio seria um livro para proibir” pela sua “crítica do capitalismo” e pelo “elogio da revolução”, o censor Lima de Carvalho, na sua ficha de leitura de 6 de Junho, considerava que, pela sua “abordagem difícil”, se tratava de um livro acessível apenas a uma elite intelectual, propondo apenas restrições à sua divulgação em vez da apreensão. (17) Esta recepção “morna” da censura parece ter-se reflectido nas vendas, que terão sido lentas até à Revolução de Abril de 1974, após o que a edição se esgota em poucos dias. (18)

NOTAS:
1. António Abreu, cit. in SILVA, Flamarion Maués Pelúcio. Livros que tomam partido: a edição política em Portugal, 1968-80. (Tese de Doutoramento) São Paulo: Universidade de São Paulo, 2013, p. 75.
2. José Reis, cit. in SILVA, Flamarion Maués Pelúcio. Idem, ibidem.
3. SILVA, Flamarion Maués Pelúcio. Op. cit., p. 44.
4. SILVA, Flamarion Maués Pelúcio. Op. cit., p. 36.
5. Entrevista por email, 12.08.2014.
6. RAMALHO, Maria. Realizar a Poesia – Guy Debord e a Revolução de Abril. Punkto (revista online).
7. Carta de Francisco Alves a Fernando Ribeiro de Mello, 09.02.1971. Arquivo da PIDE/DGS (Serviços Centrais), Torre do Tombo: CI (2) 550/74 NT – 7881, fl. 19 (processo 2215/58-SR).
8. Carta de Fernando Ribeiro de Mello a Francisco Alves, 07.05.1971. Arquivo de Francisco Alves.
9. Carta de Guy Debord a Fernando Ribeiro de Mello, 15.05.1971 (cópia). Arquivo de Francisco Alves. (Cf. DEBORD, Guy. Corréspondance. Vol. IV. Paris: Arthème Fayard, 2004 – também disponível aqui).
10. DEBORD, Guy. Op. Cit.
11. Carta de Fernando Ribeiro de Mello a Francisco Alves, 07.06.1971. Arquivo de Francisco Alves.
12. Carta de Francisco Alves a Fernando Ribeiro de Mello, 28.06.1971. Arquivo de Francisco Alves.
13. Carta de Fernando Ribeiro de Mello a Francisco Alves, 20.11.1971. Arquivo de Francisco Alves.
14. Carta de Guy Debord a Gianfranco Sanguinetti, 18.04.1972, in DEBORD, Guy. Op. Cit.
15. Conversa telefónica com Francisco Alves, 27.11.2014.
16. DEBORD, Guy. Comentários sobre a Sociedade do Espectáculo. Prefácio à quinta edição italiana de A Sociedade do Espectáculo. Lisboa: mobilis in mobile, 1995, p. 111.
17. Relatório 793/72 de 08.06.1972. Arquivo do Secretariado Nacional de Informação – Direcção dos Serviços de Censura, Torre do Tombo (PT-TT-SNI-DSC-13-8_m0352).
18. Carta de Guy Debord a Afonso Monteiro, 12.06.1974 (in RAMALHO, Maria. Op. cit.).

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“Sena da Silva: Palmas!”

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“Sena da Silva: Palmas!”. Foi assim que o Diário de Lisboa julgou o trabalho de António Sena da Silva para a Antologia do Humor Português em Novembro de 1969. É também o título de um texto sobre a colaboração entre Sena da Silva e a Afrodite de Fernando Ribeiro de Mello em três livros publicados por este (sendo a Vénus de Kazabaika de 1966 e a Antologia do Humor Negro de 1973 os outros dois), elaborado com base em três excertos do texto central (e um do depoimento de Eduardo Batarda) da monografia Editor Contra: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite que preparo. Para ler no site Design Português 2014/2015, coordenado por José Bártolo e lançado no âmbito do Ano do Design Português.

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